Por antecipação
O corpo encolhe-se um pouco, para a frente e para baixo, de repente pareço ter levado um murro no estômago vindo do nada. Oferece-me o sentimento de um vómito que fica a pairar no horizonte dos dias de amanhã. Confirma-se que há vaga para a Clara na creche, desejo nosso de que vá em Setembro. Mas num assombro de ser mãe e de ter esta amarra presa ao meu corpo visualizo os dias da separação, as horas intermináveis, o saber se está bem... o acontecer diferente dos dias. E depois a aceitação, o saber que é assim, e que tal como o João vai chegar o dia que a vou deixar ali com uma confiança quase cega e absurda e que nem sempre o meu pensamento irá para eles durante o dia, e que nem sempre sei o que lhes acontece, como passam estas inacreditáveis oito horas. De que matéria será feito os seus pensamentos e em que apuros não estarão envolvidos ao longo de uma longa jornada. E a sensação persiste, a do murro no estômago, a de vómito e a da resignação que se segue. Um dia teremos de deixá-los ir. De lhes limpar o pó das asas não usadas, sacudir-lhes o voo, beijar-lhes a fronte escondendo as lágrimas e o coração que se aperta, e a garganta que se encolhe, e o grito que sufoca de um pavor que diz e agora que faço eu? E sempre o dever: Deixo-te ir. Voa que agora o mundo é teu.
3 brilhos:
:-)
Muito bonito, Jane.
expressas com as tuas palavras o que muitas de nós sentimos.
Ups, parabéns atrasados.
beijocas
amiga, só agora cá venho espreitar, desde à muito... mas que bem me sabe ler-te e como me vejo em tudo que escrevestes aqui, beijos grandes, pati
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